O primeiro instante pós-explosão, momento este compreensível pela física e matemática como Tempo de Planck, é dado por 10⁻⁴³ segundo. Antes dele, não há ferramentas teóricas para entender e calcular os ocorridos.
Três das quatro forças fundamentais (força forte, fraca e eletromagnética) estavam unificadas. A gravidade já havia se separado anteriormente. Nesta era, surgiram as primeiras partículas elementares.
Inflação Cósmica (10⁻³⁶ a 10⁻³² segundos)
Em resumo, por Gomes, C. (2022):
A inflação cósmica corresponde ao paradigma associado ao período de expansão exponencial, ou aproximadamente exponencial, do Universo primordial entre, sensivelmente, 10⁻³⁶ e 10⁻³² segundos após o Big Bang.
A Via Láctea formou-se há cerca de 13,6 bilhões de anos, e em seu interior houve uma vasta nuvem de poeira e gás denominada Nebulosa Solar. Essa estrutura sofreu fortes ações gravitacionais ao longo do tempo, até que, há aproximadamente 4,6 bilhões de anos, originou-se a Estrela Sol e os demais corpos celestes, sendo o Sol detentor de cerca de 99,86% da massa total da nebulosa.
Quando uma estrela, neste caso o jovem Sol, está para alcançar a temperatura de fusão nuclear (em torno de 10 milhões de Kelvin no núcleo), com idade próxima de 10⁷ anos e massa inferior a duas massas solares (considerando o Sol atual), ela é caracterizada como uma pré-estrela, ou protoestrela.
Essa jovem estrela é circundada por poeira e gás espacial — resquícios de sua matéria-prima — que são dispersos ao serem atingidos por jatos bipolares e pela pressão da radiação emitida pela própria estrela jovem.
O instante em que a radiação emitida por uma estrela alcança o espectro visível ocorre a uma temperatura superficial próxima a 3860 Kelvin, que marca o limite entre o infravermelho e o visível, resultando em uma coloração vermelho-escura. Na imagem a seguir, o telescópio espacial James Webb registra uma protoestrela com cerca de 100 mil anos, sendo formada em uma nebulosa no que lembra o formato de uma ampulheta.
>
T Tauris: Estrelas Proto-Solares – Doutor Jorge Filipe Gameiro
O Sol da Via Láctea está atualmente a aproximadamente 5700 Kelvin na superfície, sendo visto pelos olhos humanos na cor branca-amarelada. Ele é classificado como uma estrela anã amarela (tipo espectral G2V), sua atual fase na sequência principal.
FORMAÇÃO DA TERRA
Há 4,5 bilhões de anos
A Terra formou-se no mesmo período que o Sol, a partir dos remanescentes da Nebulosa Solar. Esse processo teve início com o agrupamento de partículas de poeira e gases em suspensão no vácuo interestelar da Via Láctea, resultando na formação de uma esfera incandescente de magma — os primeiros estágios do planeta Terra.
>
Terra Bola de Lava | Fonte: MARK GARLICK
Entre 30 e 100 milhões de anos após sua formação, a Terra foi atingida por um corpo celeste hipotético do tamanho de Marte, denominado Theia, a uma velocidade estimada de 15 km/s. O impacto foi colossal, fundindo parte dos mantos dos dois corpos, alterando o eixo de rotação da Terra e lançando uma grande quantidade de detritos ao espaço. Parte desse material se aglutinou e originou a Lua, inicialmente a cerca de 22 mil quilômetros do planeta. A colisão também acelerou a rotação terrestre, reduzindo a duração de um dia para aproximadamente 6 horas.
>
Formação da Lua | Fonte: NASA/Jesse Allen/Divulgação
Há 3,9 bilhões de anos
Durante um intenso bombardeio cósmico, asteroides vindos das regiões mais distantes do Sistema Solar, carregando água congelada, colidiram com a Terra por mais de 20 milhões de anos. Esses impactos contribuíram para o resfriamento do planeta e enriqueceram a atmosfera primitiva com vapor d’água, gerando tempestades globais intensas. A forte gravidade da Lua — então muito mais próxima — e a rápida rotação do planeta intensificaram ainda mais esse cenário.
Há 3,8 bilhões de anos
Com a perda gradual de energia cinética, a Terra começou a girar mais lentamente, enquanto a Lua se afastava. A queda contínua de meteoros não apenas trouxe água, mas também elementos químicos essenciais que se acumularam na superfície e nos oceanos primitivos. Esse cenário criou um ambiente propício para reações químicas em alta temperatura e pressão.
Nas profundezas dos oceanos, estruturas conhecidas como fontes hidrotermais — ou "chaminés negras" — expeliam fluidos superaquecidos, ricos em minerais, diretamente do interior da Terra. Foi nesse ambiente extremo que surgiram as primeiras formas de vida: organismos unicelulares, como bactérias primitivas, capazes de sobreviver em condições adversas.
>
Fonte hidrotermal | Fonte: tempo.com
O estudo da origem da vida revela como elementos químicos essenciais — carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre — podem formar compostos orgânicos em condições adequadas. Sob alta temperatura e em meio aquoso, com descargas elétricas de tempestades primitivas, surgem aminoácidos fundamentais para a vida.
Em 1952, os químicos Stanley Miller e Harold Urey realizaram um experimento inspirado na hipótese de Aleksandr Oparin, que propunha uma atmosfera primitiva redutora, composta por hidrogênio, metano, amônia e vapor d’água. Submetendo essa mistura a descargas elétricas, eles obtiveram aminoácidos como glicina, alanina e ácido aspártico — componentes básicos das proteínas. Análises posteriores revelaram mais de 20 aminoácidos, fortalecendo a ideia de que a vida pode ter surgido em condições abióticas.
Experimento de Miller-Urey | Life’s Rocky Start
Demonstração Científica
PRIMEIRAS FORMAS DE VIDA
Há 3,5 bilhões de anos
As águas continuam sendo protagonistas nas grandes transformações do planeta. Nelas surgem os primeiros aglomerados de bactérias fotossintetizantes, formando estruturas conhecidas como estromatólitos, uma espécie de “torre” de bactérias. Esses organismos iniciaram a fotossíntese, liberando grandes quantidades de oxigênio na água. Esse oxigênio reage com o ferro dissolvido nos oceanos — proveniente da intensa atividade meteórica e vulcânica — formando óxidos de ferro, que se depositam no fundo marinho e dão origem às rochas ferríferas bandadas. Essas rochas sedimentares, de idade pré-cambriana, são compostas por bandas alternadas de óxidos de ferro e chert — forma de quartzo microcristalino — ou jaspe, um agregado com impurezas, geralmente de tonalidade avermelhada devido à presença de ferro.
Entretanto, os estromatólitos são formados por colônias de cianobactérias, organismos considerados relativamente complexos em comparação às formas de vida mais primitivas. Isso levanta questionamentos sobre o que teria existido antes deles. No campo da biociência, a origem da vida é um tema de extrema complexidade, abrangendo diversas hipóteses e possibilidades ainda em investigação. Por isso, esse assunto ultrapassa os objetivos e o escopo deste projeto, sendo tratado aqui apenas como referência introdutória.
>
Estromatólitos em formação | Fonte: Estromatólitos no Brasil, 2005
Com o tempo, à medida que os oceanos se saturam de ferro, o excesso de oxigênio começa a escapar para a atmosfera, até então rica em dióxido de carbono (CO₂), iniciando uma transformação radical na composição do ar terrestre: os primeiros passos rumo à formação da camada de ozônio.
Há 1,5 bilhão de anos
O núcleo da Terra possui temperaturas superiores às da superfície do Sol. Enquanto isso, a superfície do planeta passava por um processo de resfriamento, levando à formação da crosta terrestre. Esse período foi marcado por grande dinamismo: a lava em constante atividade solidificava-se em rocha, e a fina camada de crosta recém-formada acabaria se fragmentando em grandes blocos — as placas tectônicas.
O primeiro supercontinente amplamente reconhecido após o resfriamento da Terra foi Nuna (ou Columbia), formado durante o Paleoproterozoico, entre aproximadamente 1,8 e 1,5 bilhões de anos atrás.
>
Período Paleoproterozoico (Autoria desconhecida) | Fonte: https://mundopre-historico.blogspot.com/2017/05/pre-cambriano.html
>
Crédito: Meert and Santosh/Gondwana Research | Fonte: https://www.livescience.com/planet-earth/geology/columbia-rodinia-and-pangaea-a-history-of-earths-supercontinents
Esse período foi marcado por intensa atividade vulcânica e tectônica. A liberação de grandes volumes de CO₂ elevou o efeito estufa, agravado pela fragmentação de Columbia e posterior formação de Rodínia. As chuvas intensas formavam chuvas ácidas ao reagirem com o CO₂, acelerando o intemperismo e alterando os ciclos geoquímicos.
Essa precipitação também funcionava como “limpeza” atmosférica: ao cair, capturava CO₂ e o fixava no solo e oceanos como carbonatos, diminuindo o efeito estufa. Isso levou a um resfriamento global, com expansão de calotas polares e aumento do albedo da Terra, intensificando ainda mais o frio.
O processo culminou na Terra Bola de Neve, um congelamento extremo iniciado por volta de 750 milhões de anos atrás. O descongelamento começou cerca de 15 milhões de anos depois, devido ao acúmulo de CO₂ pela atividade vulcânica contínua, reacendendo o efeito estufa.
>
Terra Bola de Neve | Fonte: Reprodução/PPLWARE/SAPO via https://terrabrasilnoticias.com
Com o retorno da água em estado líquido, seres marinhos — já existentes, mas restritos — puderam se desenvolver. As cianobactérias e algas eucarióticas voltaram a realizar fotossíntese em maior escala, gerando o Segundo Grande Evento de Oxigenação (o primeiro ligado aos estromatólitos).
Com vasto oxigênio disponível, iniciou-se a Explosão Cambriana.
EXPLOSÃO CAMBRIANA
Há 541 milhões de anos
A Explosão Cambriana é um dos eventos mais enigmáticos da história da vida na Terra. Durante um curto intervalo geológico, houve uma diversificação sem precedentes de organismos multicelulares, marcando o surgimento dos principais filos animais atuais. As causas desse fenômeno ainda são debatidas: enquanto alguns pesquisadores destacam o aumento de oxigênio nos oceanos e na atmosfera, outros atribuem a origem a inovações biológicas, como o desenvolvimento da visão — fator que teria impulsionado uma corrida evolutiva entre predadores e presas. No entanto, a complexidade das condições ambientais do período torna a identificação de uma causa única extremamente desafiadora (MESQUITA, J. L., 2019).
Durante essa era surgiram importantes características biológicas que moldariam os rumos da evolução. A seguir, alguns dos principais organismos da época e suas contribuições para a biodiversidade atual:
Organismos Pré-Históricos e sua Importância Evolutiva
Organismo
Importância Evolutiva
Características-Chave
Relevância
Pikaia gracilens
Primeiro cordado conhecido
Notocorda (precursora da coluna vertebral), simetria bilateral
Possível ancestral dos vertebrados, incluindo humanos
Haikouichthys
Um dos primeiros vertebrados verdadeiros
Notocorda, estrutura cefálica, sistema nervoso dorsal
Base para a evolução de vertebrados
Anomalocaris canadensis
Predador dominante do Cambriano
Olhos compostos (até 16 mil lentes), boca circular, natação ágil
Pioneiro entre os predadores visuais ativos
Trilobitas
Diversificação e sucesso evolutivo
Exoesqueleto mineralizado, olhos compostos, corpo segmentado
Avanços em proteção e sensorialidade
Wiwaxia corrugata
Defesa corporal primitiva
Corpo mole com espinhos e escamas protetoras
Indica pressão evolutiva por predação
No aspecto geológico, os continentes estavam distribuídos de forma muito diferente do que vemos hoje:
Para aprofundar seus conhecimentos sobre este período fascinante, recomenda-se o vídeo do canal Zoomundo, apresentado pelos biólogos Amanda (Doutora em Oceanografia) e Bruno (Doutor em Paleontologia). Com linguagem acessível e conteúdo rigoroso, o vídeo esclarece os principais aspectos da Explosão Cambriana.
O FIM DO PERÍODO CAMBRIANO E INÍCIO DO ORDOVICIANO
Há 490 milhões de anos
O período Cambriano termina marcado por eventos de extinção em massa. Entre as possíveis causas, destacam-se teorias como o retorno de intensas atividades vulcânicas, que teriam enriquecido a atmosfera com gás carbônico, provocando o aumento da temperatura global — um ciclo climático já observado em outras eras. Por outro lado, há hipóteses que apontam para um resfriamento global, sugerindo a ocorrência de uma nova era glacial.
Apesar das perdas, a evolução da vida na Terra segue adiante. Após esse momento crítico, alguns milhões de anos se passam até o surgimento das primeiras plantas terrestres. Até então, apenas formas de vida aquáticas predominavam. É nesse cenário que aparecem as precursoras da flora terrestre: as briófitas. Essas plantas, desprovidas de vasos condutores, dependem fortemente da água para completar seu ciclo de vida. Com esse marco evolutivo, inicia-se o período Ordoviciano.
Neste momento da história da Terra, surgem diversas espécies que passaram a ocupar os espaços deixados pelas extintas — o que, na ecologia, é conhecido como “nicho ecológico”, ou seja, o papel funcional de uma espécie em seu ambiente, como sua área de especialização. Há uma intensa diversificação da vida, inclusive entre os predadores, destacando-se uma importante inovação evolutiva: a adaptação esquelética dos peixes. Duas costelas se modificaram e deram origem às mandíbulas, conferindo uma vantagem significativa a esses novos organismos em relação aos predadores anteriores, que não possuíam essa estrutura.
O FIM DO PERÍODO ORDOVICIANO E INÍCIO DO SILURIANO
Há 443 milhões de anos
O tempo segue seu curso, e um novo evento de extinção — desta vez de menor magnitude — abre espaço para a diversificação da vida. Com nichos ecológicos vagos, novas espécies surgem a partir dos organismos sobreviventes, evoluindo gradualmente. Inicia-se o período Siluriano, o menor da era paleozoica, mas de grande relevância evolutiva, pois marca um avanço significativo na colonização do ambiente terrestre.
As plantas briófitas, antes restritas a locais úmidos, evoluem e passam a desenvolver vasos condutores: o xilema, responsável pelo transporte de água e sais minerais em direção ascendente, e o floema, encarregado de distribuir nutrientes ao longo do organismo. Essa adaptação foi crucial para que as plantas pudessem se estabelecer definitivamente fora da água.
Além das plantas, os insetos também começaram a conquistar o ambiente terrestre. Nesse processo, desenvolveram importantes inovações evolutivas, como sistemas de canais respiratórios (traqueias) para absorção de oxigênio atmosférico, exoesqueletos mais resistentes que garantiam proteção e sustentação, e ovos com envoltórios adaptados ao desenvolvimento em ambientes menos úmidos — características fundamentais para o sucesso da vida não submersa.
A Era dos Peixes, como ficou conhecido o período Devoniano, marcou uma fase de transformações surpreendentes no mundo aquático. Durante esse tempo, surgiram as primeiras florestas e criaturas que dariam origem à vida terrestre. Um exemplo notável é o Tiktaalik, considerado um dos primeiros vertebrados a apresentar adaptações que lhe permitiam se deslocar em terra firme. Além dele, destacam-se o Acanthostega, um dos primeiros a desenvolver membros com dedos, embora ainda dependente do ambiente aquático, e o Tulerpeton, que apresentava características semelhantes às dos crocodilos modernos. Esses organismos representam etapas cruciais na transição da vida aquática para a terrestre.
Atualmente, existem peixes com adaptações semelhantes às dos antigos habitantes do Devoniano — um bom exemplo é o mudskipper, capaz de se locomover fora d’água por curtos períodos. No entanto, naquela época, o ambiente terrestre era praticamente livre de predadores e competição, o que favoreceu o surgimento de espécies como o Tiktaalik e facilitou seu desenvolvimento evolutivo. Hoje, esse cenário é bem diferente: a presença de inúmeros competidores e predadores exige um gasto energético muito maior, dificultando que ocorram transformações evolutivas semelhantes.
No que diz respeito às florestas — protagonistas da chamada "explosão do Devoniano" —, seu surgimento só foi possível graças a uma adaptação surpreendente: a evolução do xilema e do floema, tecidos condutores que deram origem à madeira. Um exemplo de uma das primeiras árvores conhecidas é a Cladoxylopsida, ancestral das atuais samambaias, que se reproduzia por esporos. A presença dessas árvores alterou drasticamente o ambiente terrestre. Suas raízes profundas penetravam o solo, promovendo sua aeração e contribuindo para o desenvolvimento de ecossistemas mais complexos. Além disso, a enorme massa vegetal resultou na liberação de grandes quantidades de oxigênio na atmosfera, modificando sua composição e favorecendo a diversificação da vida. Nos oceanos, ocorreram mudanças significativas na biogeoquímica da água, que levaram inclusive a eventos de extinção por anóxia (falta de oxigênio). As árvores também passaram a oferecer abrigo e alimento a diversas espécies, o que proporcionou vantagens adaptativas importantes para os animais nas eras seguintes.
>
Detalhes da estrutura secundária de um caule (com xilema e floema) | Fonte: aprendendobio.com.br
O período Devoniano foi marcado por severos episódios de extinção em massa, entre os mais significativos estão os eventos de Kellwasser, ocorridos há cerca de 372 milhões de anos, e o evento Hangenberg, por volta de 359 milhões de anos atrás. Entre as principais hipóteses para essas extinções está a anóxia oceânica — a drástica redução de oxigênio nos oceanos —, causada pelo aumento da liberação de nutrientes decorrente da expansão das raízes das plantas ao longo das margens, o que estimulou o crescimento excessivo de organismos marinhos, superando a disponibilidade de oxigênio. A atividade vulcânica intensa também é apontada como um fator agravante. Além disso, alguns cientistas consideram a possibilidade de que explosões de supernovas, mesmo a bilhões de anos-luz de distância, tenham afetado a Terra ao danificar sua camada de ozônio, contribuindo para mudanças ambientais catastróficas.
Esses eventos de extinção ocorreram de forma gradual, ao longo de milhões de anos — assim como a maioria dos grandes processos de extinção na história da Terra. Apesar das severas mudanças ambientais, os primeiros tetrápodes conseguiram sobreviver. A própria existência dos vertebrados terrestres atuais, incluindo os seres humanos, é uma prova da notável resiliência e adaptabilidade desses grupos diante de condições extremas.
>
Disposição dos continentes no Devoniano | Fonte: infoescola.com
O FIM DO PERÍODO DEVONIANO E INÍCIO DO CARBONÍFERO
Há 359 milhões de anos
Com uma disponibilidade sem precedentes de oxigênio, resultado da vasta proliferação das florestas no final do Devoniano, os animais que adentraram o novo período — o Carbonífero — evoluíram significativamente, dando origem a formas de vida impressionantes. Esse momento histórico ficou conhecido pelo surgimento de insetos gigantes e dos primeiros tetrápodes de grande porte, semelhantes a anfíbios. Paralelamente, ocorreram também importantes inovações no reino vegetal. Até então dominadas por plantas que se reproduziam por esporos, como samambaias e licófitas, as paisagens passaram a ser ocupadas pelas gimnospermas — árvores com sementes expostas —, capazes de colonizar áreas mais afastadas da água, o que ampliou drasticamente a diversidade e alcance das florestas.
Sobre os insetos, não possuem pulmões; sua respiração se dá por meio de um sistema de traqueias — tubos que transportam oxigênio diretamente às células. Durante o Carbonífero, os níveis de oxigênio atmosférico eram muito superiores aos atuais, o que permitiu que esse sistema respiratório fosse extremamente eficiente. Essa condição ambiental favoreceu o crescimento vertiginoso dos insetos, levando ao surgimento de espécies gigantes, como a Meganeura, uma libélula pré-histórica com envergadura de até 75 centímetros. Esse aumento de tamanho seria inviável nas condições atmosféricas atuais, em que a concentração de oxigênio é consideravelmente menor.
>
Meganeura em escala | Fonte: https://aminoapps.com/c/dino-world-br-pt/page/blog/tudo-sobre-meganeura/D8m3_Rl3fPum0lEervJQWgEYQbYkaVREB3M
Além dos insetos e dos grandes tetrápodes semelhantes a anfíbios, os verdadeiros tetrápodes também se diversificaram e aumentaram de tamanho durante o período Carbonífero. Um exemplo notável é o Anthracosaurus, um predador semiaquático que podia ultrapassar os 3 metros de comprimento. Nesse mesmo contexto, vale destacar uma curiosidade: o enigmático Tullimonstrum, popularmente conhecido como "Monstro de Tully", um animal marinho do período que, até hoje, desafia a taxonomia científica devido às suas características morfológicas incomuns.
Com tamanha diversidade evolutiva, o Carbonífero também foi palco de uma inovação crucial para a conquista definitiva do ambiente terrestre: o surgimento dos amniotas. Até então, os ovos eram frágeis e dependentes de ambientes úmidos, pois possuíam apenas uma membrana simples que protegia o embrião. No entanto, os amniotas desenvolveram ovos com casca resistente e uma cavidade interna chamado âmnio — uma membrana que envolve o embrião em um líquido protetor. Essa adaptação permitiu que esses animais se reproduzissem longe da água, abrindo caminho para a radiação evolutiva dos répteis, aves e mamíferos que viriam nas eras seguintes.
Com o passar do tempo, o período Carbonífero foi drasticamente afetado por uma das mais severas eras glaciais da história: a Glaciação Karoo. Iniciada ainda no final do Devoniano, essa era do gelo se estendeu por cerca de 100 milhões de anos. Além do avanço das geleiras, o planeta enfrentou um processo de extinção global que, embora não tenha atingido os níveis de uma extinção em massa, ainda assim causou impactos profundos nos ecossistemas. Um dos eventos mais marcantes desse período foi o Colapso das Florestas Tropicais do Carbonífero, ocorrido há aproximadamente 305 milhões de anos.
As condições climáticas tornaram-se extremamente áridas e frias, o que levou à morte de vastas áreas de floresta tropical que dependiam de umidade constante para sobreviver. Com o desaparecimento desse habitat, inúmeras espécies foram extintas, incluindo muitos dos grandes répteis primitivos. Esse colapso reduziu drasticamente a biodiversidade e remodelou os ambientes terrestres, abrindo caminho para novas linhagens de animais mais adaptados a condições secas e variáveis.
Segue abaixo um demonstrativo da área congelada do evento Glaciação Karoo:
>
Área de atuação da glaciação Karoo | Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Glacia%C3%A7%C3%A3o_Karoo
>
Disposição dos continentes no Carbonífero | Fonte: https://www.infoescola.com/historia/periodo-carbonifero/
O FIM DO PERÍODO CARBONÍFERO E INÍCIO DO PERMIANO
Há 299 milhões de anos
Neste momento da história, os continentes finalmente se uniram para formar o supercontinente conhecido como Pangeia. Essa imensa massa de terra contínua influenciou profundamente o clima global. Com vastas áreas continentais afastadas dos oceanos, a umidade marinha não conseguia penetrar com facilidade até o interior, tornando o clima mais seco e com estações mais marcadas. Essa mudança ambiental impulsionou adaptações significativas, especialmente nas plantas. As gimnospermas, já presentes desde o Carbonífero, consolidaram-se como o grupo dominante. Seu sucesso se deve à capacidade de reproduzirem-se sem a necessidade de água líquida — suas sementes protegidas permitiam a colonização de ambientes áridos e sazonais.
Foi durante o período Permiano que surgiram os primeiros representantes dos sinapsídeos, o grupo de vertebrados do qual descendem os mamíferos modernos. Um dos gêneros mais conhecidos desse grupo é o Dimetrodon, frequentemente confundido com dinossauros, mas na verdade mais relacionado aos mamíferos. Esses animais apresentavam características já notavelmente diferentes dos répteis tradicionais, como crânios com uma única abertura temporal atrás dos olhos (característica dos sinapsídeos), além de padrões de dentição diferenciada — um passo importante rumo à mastigação eficiente dos mamíferos.
>
Dimetrodon Fonte: ISTOCK, DANIEL ESKRIDGE
Na imagem a seguir, é possível observar a abertura localizada atrás dos olhos no crânio do Dimetrodon — uma característica conhecida como crânio sinápsido. Essa estrutura anatômica é uma das principais evidências que o distinguem dos répteis tradicionais e o posicionam na linhagem evolutiva que mais tarde daria origem aos mamíferos.
>
Crânio Sinapsido (Fonte: Dimetrodon grandis skull. Exhibit Museum of Natural History, University of Michigan, 1109 Geddes Avenue, Ann Arbor, Michigan, USA).
Paralelamente, os ancestrais dos dinossauros, pertencentes ao grupo dos diápsidos, também começaram a se diversificar. Embora os dinossauros só surgissem mais tarde, no período Triássico, suas origens remontam ao fim do Permiano, com pequenos répteis adaptados ao ambiente seco e à nova configuração ecológica deixada pelas mudanças climáticas e da vegetação da Pangeia.
O período Permiano, que marca o fim da era Paleozoica, foi um tempo de transição intensa e instabilidade ambiental. Nele ocorreram três importantes eventos de extinção — todos contribuindo para um colapso gradual, culminando na mais devastadora crise da história da vida na Terra cuja recuperação ultrapassou os 10 milhões de anos para se concretizar, abrindo assim caminho para a ascensão dos arcossauros (grupo dos quais descendem os dinossauros) e, posteriormente, os primeiros dinossauros no período Triássico.
Eventos de Extinção do Final do Permiano
As três grandes crises que marcaram o fim da era Paleozoica
Extinção de Olson
~270 milhões de anos atrás
Também chamada de “gap de Olson”, essa extinção é considerada uma das primeiras grandes perdas de biodiversidade do Permiano. Ela afetou profundamente os ecossistemas terrestres, em especial os sinapsídeos herbívoros e carnívoros — grupo ao qual pertencem os ancestrais dos mamíferos. As causas ainda são debatidas, mas acredita-se que mudanças climáticas rápidas e alterações na vegetação possam ter desencadeado esse colapso ecológico, criando um hiato na diversidade e na recuperação de espécies por milhões de anos.
Associada a mudanças climáticas drásticas
Declínio de até 60% das espécies terrestres
Possível ligação com atividade vulcânica inicial
Extinção do Capitaniano
~260 milhões de anos atrás
Menos conhecida, mas extremamente significativa, essa extinção atingiu especialmente os ecossistemas marinhos. Muitas espécies de corais, braquiópodes e foraminíferos desapareceram. Evidências geológicas sugerem intensa atividade vulcânica, responsável por liberação de gases tóxicos e alterações químicas nos oceanos, como acidificação e anóxia (redução de oxigênio), além de possíveis episódios de resfriamento e, em seguida, superaquecimento.
Perda de ~50% das espécies marinhas
Relacionada às erupções das Emeishan Traps
Evento precursor da maior extinção em massa
A Grande Morte
~252 milhões de anos atrás
Conhecida como a maior extinção em massa da história da Terra, esse evento devastou cerca de 96% das espécies marinhas e mais de 70% das espécies terrestres. A Grande Morte foi o resultado de uma série de catástrofes interligadas que se intensificaram ao longo de milhares de anos.
As principais hipóteses para essa extinção incluem:
Erupções vulcânicas em larga escala na região da atual Sibéria (Trapps Siberianos), liberando enormes quantidades de dióxido de carbono (CO₂) e metano (CH₄) na atmosfera.
Aquecimento global extremo, com aumento médio de 10°C na temperatura global, desestabilizando os ecossistemas terrestres e marinhos.
Acidificação e anóxia dos oceanos, sufocando a vida marinha.
Colapso da camada de ozônio, aumentando a radiação UV.
Liberação de clatratos de metano, amplificando o efeito estufa de forma abrupta.
O FIM DO PERÍODO PERMIANO E INÍCIO DO TRIÁSSICO
Há 252,2 milhões de anos
Relembrando os amniotas, grupo que originou os primeiros vertebrados a botarem ovos com casca e cavidade amniótica, eles se dividiram em diversas linhagens ao longo do tempo — muitas das quais hoje são conhecidas apenas por fósseis. No entanto, duas linhagens principais sobreviveram até os dias atuais: de um lado, os répteis (incluindo aves) e, de outro, os mamíferos.
A principal diferença entre esses grupos está na estrutura do crânio, especificamente no número e posicionamento das aberturas temporais, não sensoriais, ou seja, para músculos e não olhos e nariz, por exemplo. Os mamíferos, como também seus ancestrais sinapsídeos, como o Dimetrodon, possuem uma única abertura temporal atrás de cada olho, o que caracteriza o crânio sinápsido.
Essa abertura servia (e ainda serve) como passagem para músculos da mandíbula, o que permitiu o desenvolvimento de uma mordida mais forte e eficiente. Nos humanos, essa estrutura corresponde ao arco zigomático, a cavidade por onde passam os músculos responsáveis pela mastigação — evidência evolutiva que conecta nossa anatomia à linhagem sinápsida.
No que se refere aos répteis, a maioria apresenta duas aberturas temporais no crânio, configuração conhecida como crânio diápsido. É importante destacar o caso das tartarugas modernas, que perderam essas aberturas ao longo de sua linha evolutiva. Por isso, apesar de possuírem um crânio sólido, não devem ser confundidas com os verdadeiros anápsidos — grupo que originalmente nunca teve essas aberturas e que foi extinto durante a Grande Morte do Permiano, há cerca de 252 milhões de anos.
Durante o Triássico, o mundo era habitado por uma variedade impressionante de animais, como em todas as eras geológicas. No entanto, esse período se destacou por uma clara divisão ecológica: os imensos não-dinossaurianos, répteis e não répteis, que dominavam as vastas regiões áridas e abertas do interior da Pangea, enquanto pequenos vertebrados, incluindo os primeiros dinossauros, ocupavam ambientes mais úmidos e florestados próximos às costas.
>
Lisowicia bojani, o maior sinapsídeo não-dinassauriano (Fonte: Wikipedia – Juandertal)
Esses animais menores seguiram uma linha evolutiva voltada à agilidade e velocidade, desenvolvendo a digitigradia — um modo de locomoção em que o animal apoia-se apenas nos dedos dos pés. Isso reduz o contato com o solo e aumenta a eficiência dos movimentos, conferindo maior rapidez e leveza.
>
Mammalian locomotor posture, Wikipedia, usuário Antoine ADAM
O fóssil mais antigo de um possível dinossauro é o Nyasasaurus parringtoni, descoberto na Tanzânia, com cerca de 245 milhões de anos. Já os primeiros dinossauros amplamente reconhecidos são encontrados na Formação Santa Maria, no atual Rio Grande do Sul, datados entre 235 e 231 milhões de anos.
Com crânios mais adaptados para mordidas fortes, membros mais leves e rápidos, e o surgimento de eventos localizados de extinção — como a extinção do final do Triássico, que eliminou muitos grandes répteis não-dinossaurianos — os dinossauros, antes ocupando nichos secundários, encontraram a oportunidade de prosperar. Assim, emergem como os principais vertebrados terrestres da próxima era: o Jurássico.
O FIM DO PERÍODO TRIÁSSICO E INÍCIO DO JURÁSSICO
Há 199,6 milhões de anos
O final do período Triássico foi marcado por intensas mudanças climáticas que ocorreram em uma velocidade superior à capacidade de adaptação de muitas espécies. Esse desequilíbrio ambiental resultou em uma extinção em massa significativa, abrindo caminho para o surgimento de uma nova era: o período Jurássico.
Durante esse novo capítulo da história geológica, um grupo de animais se destacou e se consolidou — os tireóforos, conhecidos como os "portadores de escudo". Esses dinossauros desenvolveram estruturas defensivas compostas por placas e protuberâncias ósseas, representando uma forma primitiva de armadura corporal. Esse tipo de adaptação também pode ser observado em animais atuais, como os tatus e crocodilos, que possuem estruturas semelhantes chamadas osteodermas.
Embora essa característica tenha se perdido em muitos grupos ao longo do tempo, é possível que a informação genética relacionada a essas armaduras tenha permanecido latente em algumas linhagens, reaparecendo no Jurássico como uma resposta adaptativa — uma hipótese interessante a ser considerada.
A armadura dos tireóforos era composta por osteodermas, placas ósseas que se formavam dentro da pele e protegiam grande parte do corpo. O representante mais basal (primitivo) conhecido com essa característica é o Scutellosaurus, que viveu há cerca de 196 milhões de anos, justamente na transição entre o Triássico e o Jurássico.
O período Jurássico ficou marcado como uma das fases mais emblemáticas da evolução dos grandes dinossauros carnívoros. A história começa com os pequenos terópodes — sobreviventes resilientes do evento de extinção que pôs fim aos grandes répteis não-dinossaurianos do final do período Triássico. Esses diminutos dinossauros, bípedes e ágeis, com membros anteriores encurtados e ossos ocos, trilharam um caminho evolutivo que os levou a se tornarem os predadores dominantes dos ecossistemas mesozoicos.
Curiosidade: Apenas dois anos após a publicação de A Origem das Espécies por Charles Darwin, em 1859, um achado notável veio à tona: em 1861, foi anunciado o primeiro espécime relativamente completo de Archaeopteryx, encontrado nas formações calcárias de Solnhofen, na Alemanha. Este fóssil se tornaria um dos mais icônicos da paleontologia, representando a mais basal e primitiva ave já registrada na linha evolutiva das aves modernas.
O Archaeopteryx exibia um fascinante mosaico de características que o situavam exatamente entre os dinossauros terópodes e as aves atuais. Apesar de possuir penas bem desenvolvidas e adaptadas para o voo – com estrutura aerodinâmica semelhante à de aves modernas –, esse animal ainda mantinha diversas características reptilianas herdadas de seus ancestrais dinossaurianos, como dentes afiados em mandíbulas, garras nos dedos das asas e uma cauda óssea longa, diferente do pigóstilo das aves atuais.
O achado foi especialmente impactante porque forneceu uma poderosa evidência fóssil a favor da teoria da evolução, ainda cercada de ceticismo na época. Mostrava, de forma concreta, uma forma transicional entre répteis e aves, ligando os dinossauros terópodes – em especial os maniraptores – às aves modernas. Hoje, a maioria dos paleontólogos considera as aves como dinossauros vivos, mais especificamente descendentes diretos de terópodes coelurossauros do grupo Maniraptora.
Assim, Archaeopteryx não é apenas uma “ave com traços de dinossauro”, mas um marco na história evolutiva — um verdadeiro símbolo da transição entre os répteis mesozóicos e as aves modernas que ainda habitam os céus. O mais impressionante é que as aves surgiram muito antes de dinossauros icônicos como o Tyrannosaurus rex. Enquanto o Archaeopteryx viveu no período Jurássico, há cerca de 150 milhões de anos, o T. rex só apareceria bem mais tarde, no final do Cretáceo, há aproximadamente 68 milhões de anos. Ou seja, os pássaros modernos são descendentes diretos de linhagens que já existiam muito antes do reinado do T. rex, reforçando a ideia de que as aves são, de fato, dinossauros vivos — e ancestrais, não herdeiras tardias, dos gigantes mais famosos do Cretáceo.
>
Fóssil de Archaeopteryx | Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Archaeopteryx#
>
Archaeopteryx caçando um animal menor | Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Archaeopteryx#
Paralelamente ao surgimento das primeiras aves durante o Jurássico, outro espetáculo evolutivo tomava forma sobre a Terra: a ascensão dos saurópodes. Esses colossos herbívoros evoluíram de maneira extraordinária, alcançando alturas superiores a 20 metros e pesos inimagináveis, desafiando os próprios limites da biologia estrutural.
O que mais impressiona não é apenas o tamanho, mas a sofisticada adaptação osteomuscular que possibilitou tais proporções. Seus pescoços colossais, formados por dezenas de vértebras alongadas, passaram por modificações específicas: as articulações entre as vértebras foram redesenhadas pela seleção natural para distribuir o peso com eficiência, enquanto poderosos grupos musculares se ancoravam em longas cristas ósseas, conectando-se ao dorso e formando um sistema biomecânico digno de uma verdadeira obra-prima da engenharia evolutiva.
Esses titãs do Jurássico, como Diplodocus, Brachiosaurus e Apatosaurus, não apenas dominaram os ecossistemas terrestres por milhões de anos — eles reescreveram o conceito de grandiosidade no reino animal.
>
Esqueleto do Diplodocus | Foto de Allen C. Browne, 16 de outubro, 2016 | Fonte: https://www.hmdb.org/m.asp?m=189203
O final do período Jurássico permanece como um ponto de debate entre os paleontólogos. Há cerca de 40 anos, cientistas questionam a real magnitude do evento que teria marcado o encerramento dessa era. Diferente de outras transições entre períodos geológicos, o número relativamente baixo de extinções registradas no registro fóssil não corresponde ao padrão típico de uma extinção em massa, como as que ocorreram no final do Permiano ou do Cretáceo.
Essa escassez de evidências de perda significativa de biodiversidade levanta dúvidas sobre a real intensidade e abrangência do evento. Terá sido um declínio gradual em vez de um colapso abrupto? Ou ainda não descobrimos os fósseis que completariam esse quebra-cabeça? Diante disso, o final do Jurássico segue como uma interrogação aberta na história da Terra, desafiando cientistas a revisarem critérios e ampliarem investigações sobre as mudanças ambientais e ecológicas que marcaram essa transição.
Um ponto relevante de análise: Em conformidade com as propostas do paleontólogo Robert Bakker, foi a transformação da flora ao final do Jurássico, marcada pelo surgimento das angiospermas — as primeiras plantas com flores e frutos — que marcaram o pontapé inicial para o decaimento do Jurássico. Embora esse grupo vegetal só tenha se diversificado amplamente no período seguinte, o Cretáceo, sua emergência inicial ainda no Jurássico pode ter desencadeado mudanças significativas nos ecossistemas terrestres.
>
Fóssil de planta com 164 milhões de anos descoberto na China - Divulgação/Nanjing Institute of Geology and Paleontology (NIGPAS)
A introdução de novas formas de vegetação teria alterado os padrões de alimentação dos grandes herbívoros, influenciando diretamente sua fisiologia, comportamento e distribuição. Essas mudanças, por sua vez, impactaram toda a cadeia trófica, provocando ajustes na dinâmica dos predadores, inclusive entre os grandes terópodes carnívoros. Assim, mesmo em estágio inicial, o advento das angiospermas pode ter representado um gatilho sutil, porém profundo, na reorganização ecológica que prepararia o terreno para os complexos ecossistemas do Cretáceo.
O FIM DO PERÍODO JURÁSSICO E INÍCIO DO CRETÁCICO
Há 145 milhões de anos
À medida que o tempo avança, o período Cretáceo marca importantes transformações evolutivas. Muitos dinossauros desenvolveram mandíbulas mais especializadas e eficientes para a mastigação, favorecendo uma alimentação herbívora mais complexa e eficaz. Essa adaptação mastigatória foi decisiva para o sucesso evolutivo de diversos grupos de herbívoros do período.
Exemplos notáveis incluem os hadrossauros, conhecidos como "dinossauros de bico de pato", que apresentavam mandíbulas altamente móveis com centenas de dentes organizados em baterias dentárias capazes de triturar vegetação resistente. Os ceratopsídeos, como o famoso Triceratops, também possuíam mandíbulas poderosas e bicos córneos que lhes permitiam cortar e processar vegetação dura com eficiência. Essas inovações dentárias colocaram os herbívoros do Cretáceo entre os vertebrados mais bem-sucedidos do seu tempo.
Além disso, a mais antiga evidência de cuidado parental entre dinossauros foi registrada no período Cretáceo, com o Maiasaura. Essa espécie forneceu os primeiros indícios concretos de que certos dinossauros cuidavam de seus filhotes após o nascimento — um comportamento até então desconhecido no registro fóssil.
>
Parasaurolophus, da família Hadrossauro (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Parasaurolophus)
Indo além, os ceratopsídeos foram marcantes nesse momento histórico, eles passaram por uma ampla diversificação, consolidando-se como um dos grupos herbívoros mais distintos e bem-sucedidos da era dos dinossauros. Esses animais quadrúpedes eram facilmente reconhecíveis pelos seus impressionantes adornos cranianos, especialmente a grande gola óssea (ou escudo) que se estendia a partir da parte posterior do crânio, formando uma verdadeira "coroa" ao redor da cabeça.
Essa estrutura não apenas conferia um visual marcante, mas também possuía múltiplas funções possíveis, incluindo defesa contra predadores, termorregulação, exibição sexual e reconhecimento entre indivíduos da mesma espécie. Entre os representantes mais emblemáticos estão o Triceratops, com seus três chifres e gola robusta, e o Styracosaurus, que ostentava longos espinhos na borda do escudo. A variedade de formas e tamanhos dessas ornamentações revela uma notável explosão evolutiva dentro do grupo, particularmente na América do Norte e na Ásia.
Ainda dentro do período Cretáceo, especialmente em sua fase final, surgiram diversos dinossauros que exibiam características muito próximas das aves modernas, representando etapas importantes na transição evolutiva entre dinossauros terópodes e as aves.
Entre os principais exemplos estão o Ornithomimus, o Beishanlong e o Garudimimus — pertencentes ao grupo dos ornitomimossauros, conhecidos por seu corpo esguio, membros longos e a presença de penas. Embora inicialmente se acreditasse que fossem principalmente piscívoros (alimentando-se de peixes), estudos mais recentes sugerem que muitos desses dinossauros eram onívoros, consumindo uma variedade de alimentos, incluindo pequenos vertebrados, insetos e plantas.
Outros Exemplos Notáveis
Microraptor: Um pequeno dinossauro com penas nas pernas e braços, provavelmente capaz de planar entre árvores.
Anchiornis: Muito semelhante às aves modernas, com plumagem bem desenvolvida e asas com penas assimétricas.
Confuciusornis: Um dos primeiros dinossauros com bico sem dentes, mostrando o avanço na especialização alimentar.
Esses dinossauros variavam bastante em tamanho: alguns eram menores que uma galinha, com menos de 60 centímetros de comprimento, enquanto outros, como o Beishanlong, podiam atingir até 2,6 metros.
Com o passar do tempo, é possível observar tendências evolutivas como:
Redução ou perda de dentes;
Encurtamento dos braços (em alguns grupos) ou, ao contrário, especialização dos membros anteriores em asas funcionais;
Aumento da leveza do esqueleto, facilitando o voo ou o planamento.
Essas formas representam importantes elos evolutivos entre os dinossauros e as aves modernas, reforçando a ideia de que as aves são, na verdade, os únicos dinossauros que sobreviveram à extinção em massa do final do Cretáceo.
>
Fóssil do Microraptor | Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Microraptor
Com a vasta quantidade de fósseis já descobertos, temos hoje uma noção clara de como o planeta mudou ao longo de bilhões de anos. E, diante de tamanha evolução, deixar de mencionar o maior carnívoro terrestre que já existiu seria quase um sacrilégio: O Lendário Tyrannosaurus Rex.
Esse dinossauro impressionava por sua estrutura massiva e uma mandíbula equipada com músculos extremamente potentes, capazes de exercer uma das mordidas mais fortes de toda a história da vida na Terra. A força era tamanha que o próprio esqueleto apresentava marcas de estresse ósseo, cicatrizes permanentes visíveis em diversos fósseis, resultado da tensão constante durante a alimentação.
Os nervos sensoriais faciais do T. rex eram altamente desenvolvidos, permitindo-lhe detectar variações de temperatura, textura e até movimento das presas — uma característica comum entre carnívoros, mas levada ao extremo nesse predador. Além disso, possuía uma estrutura óssea reforçada na região abdominal, conhecida como gastrália, que oferecia suporte à enorme massa visceral e ao volume de alimento ingerido — uma adaptação essencial para um animal de proporções tão colossais.
Um dos registros mais impressionantes dessa espécie está exposto no Royal Tyrrell Museum of Palaeontology, em Alberta, Canadá: um fóssil de Tyrannosaurus rex preservado em condições excepcionais, praticamente "cravado" na rocha. Observar esse exemplar, mesmo por imagens, é como realizar uma verdadeira viagem no tempo, capturando o instante congelado da morte de um dos mais icônicos predadores que já caminharam sobre a Terra.
Tiranossauro Rex exposto no Royal Tyrrell Museum of Palaeontology, em Alberta, Canadá | Fonte: https://www.flickr.com/photos/39489005@N05/51871903845/in/photostream/
>
Em exibição no Field Museum, em Chicago, Sue, um dinossauro T. Rex, é o fóssil de T. Rex mais completo do mundo, mas os cientistas não sabem se trata-se de uma fêmea ou de um macho • Martin Baumgaertner / Field Museum | Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/ancestrais-do-t-rex-usaram-ponte-terrestre-para-ir-da-asia-a-america/
Há 66 Milhões de Anos
A Extinção do Cretáceo–Paleógeno
Há cerca de 66 milhões de anos, o planeta enfrentou um dos eventos mais dramáticos de sua história: a extinção em massa do Cretáceo–Paleógeno (K–Pg). Esse episódio, considerado o segundo mais catastrófico da Terra (superado apenas pela extinção do Permiano–Triássico), eliminou aproximadamente 75% de todas as espécies vivas, incluindo os famosos dinossauros não aviários.
Embora os primeiros indícios geológicos desse evento tenham sido identificados por volta de 1820, os estudos científicos sistemáticos só ganharam força a partir de 1920. Esse hiato de um século refletia o contexto cultural da época, onde o pensamento teológico predominava e limitava o interesse por explicações naturalistas da história da Terra. Afinal, a ciência só avança quando há dúvida, curiosidade e abertura à mudança.
Possível asteroide e atividade vulcânica
Primieras hipóteses
Com o avanço da ciência no século XX, pesquisadores começaram a formular hipóteses sobre as causas dessa extinção súbita. Diversas explicações foram propostas, desde especulações menos fundamentadas até teorias baseadas em evidências consistentes. As principais foram:
Atividade vulcânica intensa no Planalto de Decã, na atual Índia (Teoria de Suporte 1);
Mudanças climáticas globais severas;
Variações acentuadas no nível do mar, conhecidas como Regressão Marinha (Teoria de Suporte 2);
Impacto de um asteroide ou cometa, a hipótese que mais tarde ganharia maior respaldo científico.
As erupções colossais no Planalto de Decã, que liberaram enormes volumes de gases de efeito estufa e partículas na atmosfera, coincidiram com a queda abrupta do nível dos oceanos — ambos eventos ocorrendo próximos ao momento do impacto extraterrestre. Assim, embora o impacto do asteroide seja considerado o principal gatilho da extinção, esses fenômenos geológicos atuaram como fatores agravantes, somando-se para gerar um cenário de estresse ambiental extremo.
A Camada de Irídio e a Hipótese do Impacto
Descoberta Revolucionária (1980)
Em 1980, a equipe liderada pelo físico Walter Álvarez identificou uma fina camada de irídio em rochas sedimentares distribuídas globalmente, exatamente na transição Cretáceo-Paleógeno.
O irídio, extremamente raro na crosta terrestre mas comum em meteoritos, sugeria um evento global catastrófico. A descoberta foi publicada na revista Science e deu origem à Hipótese do Impacto.
Apesar da evidência química, a teoria enfrentou ceticismo até a descoberta da cratera de Chicxulub em 1991, que provou ser o "local do crime" deste evento de extinção em massa.
Físico e GeólogoWalter AlvarezFonte: Wikipedia
Contribuições Científicas
Co-descobridor da camada de irídio K-Pg
Desenvolveu a Hipótese do Impacto de Alvarez
Pioneiro na teoria do impacto como causa da extinção dos dinossauros
Professor Emérito na UC Berkeley
Comprovação Científica
41 cientistas de 12 países
A resposta estava enterrada na Península de Yucatán, no México. Em 1978, os geofísicos Glen Penfield e Antonio Camargo, enquanto trabalhavam para a estatal petrolífera Pemex, detectaram anomalias gravitacionais e magnéticas que indicavam a presença de uma enorme estrutura circular subterrânea.
Mais tarde, essa estrutura foi confirmada como uma cratera de impacto com cerca de 180 km de diâmetro, provocada por um asteroide de aproximadamente 10 a 12 km de largura: a cratera de Chicxulub.
Essa descoberta fortaleceu enormemente a teoria do impacto.
A confirmaçao científica veio em 2010, em um painel internacional composto por 41 cientistas de 12 países, após revisar centenas de estudos, endossou formalmente a Hipótese do Impacto como a principal causa da extinção do K–Pg.
A combinação desses eventos desencadeou uma série de catástrofes ambientais:
Uma onda de choque com mais de 4.000 km de alcance, incinerando tudo em seu caminho;
Incêndios florestais globais, desencadeados por detritos superaquecidos;
Ejeção de poeira e gases sulfurosos para a atmosfera, bloqueando a luz solar por meses/anos;
Um "inverno de impacto", colapsando cadeias alimentares terrestres e marinhas;
Acidificação dos oceanos, dizimando a vida marinha superficial.
Após a extinção do Cretáceo, a Era Cenozoica emergiu como um novo capítulo na história da Terra. Essa era é marcada pelo surgimento e diversificação dos mamíferos, que se tornaram os vertebrados dominantes após a queda dos dinossauros.
O Cenozoico é dividido em três períodos principais: Paleogeno, Neogeno e Quaternário. Em resumo: No Paleogeno, os mamíferos começaram a se diversificar rapidamente, ocupando nichos ecológicos deixados vagos pelos dinossauros. O Neogeno viu o surgimento de muitos grupos modernos de mamíferos e aves, enquanto o Quaternário é caracterizado por mudanças climáticas significativas e a evolução dos humanos.
O Paleoceno
Os primeiros mamíferos conhecidos por nós surgem nesse momento histórico. Um exemplo são os ungulados primitivos (mamíferos com cascos) e os afrotérios, grupo que futuramente incluirá os elefantes, sirênios e hiracóides. Também aparecem, em meio às grandes mudanças faunísticas, os oxienodontes e os hyaenodontes — predadores carnívoros que dominaram o topo da cadeia alimentar por milhões de anos. Embora não sejam ancestrais diretos dos famosos dentes-de-sabre, eles ocupavam nichos semelhantes e representam uma etapa importante na evolução dos grandes mamíferos predadores. Essas linhagens demonstram como a natureza, por meio da convergência evolutiva, recriou repetidamente formas de vida com mandíbulas poderosas e dentições adaptadas à hipercarnivoria.
O impacto do asteroide provocou mudanças profundas na Terra, eliminando grande parte da vida e criando um cenário hostil. Nesse novo ambiente, os mamíferos pequenos — com menor demanda energética — levaram vantagem durante os milhões de anos de recuperação do planeta. Alimentavam-se de fungos, como cogumelos, que proliferaram em ambientes escuros e úmidos, agora dominados por cinzas e sem luz solar. Esses mamíferos conseguiram sobreviver em abrigos subterrâneos ou próximos a fontes de água doce, onde a vegetação exigia menos fotossíntese para se manter. Essa cadeia de eventos favoreceu seu desenvolvimento evolutivo, incluindo o surgimento de pequenos primatas. Esse período inicial da Era Cenozoica é chamado de Paleoceno e marca um recomeço biológico global. No entanto, seu final é assinalado por um evento climático extremo: o Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno, caracterizado por intensas atividades vulcânicas e aumento abrupto da temperatura global.
No Paleoceno os continentes estavam próximos da nossa atual compreenssão, a Antártida tropical muito próxima dos continentes atualemte conhecidos por oceania e américa do sul, esse ainda desconectado do que virá a ser a América central e do norte, além da atual Índia que estava a caminho da Ásia, a qual desconectou da Antártida eras antes, no período Jurássico.
>
Continentes no Paleoceno | Fonte: https://www.atlasvirtual.com.br/paleoceno.htm
O Eoceno e o Oligoceno
Há 56–34 & 34–23 milhões de anos
Conhecido como o Alvorecer da Vida Moderna, esse intervalo marca transformações profundas na geografia e no clima da Terra. A colisão da Índia com a Ásia dá início à formação do Himalaia, enquanto a Antártida se separa completamente da Austrália, tornando-se um continente isolado. Esse isolamento altera drasticamente as correntes oceânicas — um exemplo marcante é a abertura do Canal de Drake, entre a América do Sul e a Antártida. Como consequência, inicia-se o resfriamento global e a formação da atual calota polar antártica. O ar torna-se mais seco, já que temperaturas baixas reduzem a formação de vapor d'água, elevando a aridez e a amplitude térmica global. O crescimento contínuo do Himalaia modifica os padrões das correntes de ar, reduzindo a umidade que antes alcançava o norte da África — um fator que contribui para a desertificação do Saara. Simultaneamente, os Alpes começam a se erguer na Europa. Essa época representa uma reconfiguração duradoura na paisagem e no clima do planeta.
A Diversidade
O Paleógeno foi um período vasto no que se refere à diversidade dos mamíferos, conforme dito anteriormente, com o surgimento e expansão de diversos grupos que ocupariam nichos deixados vagos após a extinção dos dinossauros. Destacam-se exemplares gigantes como:
Paraceratherium
O maior mamífero terrestre conhecido, um rinoceronte sem chifres que podia atingir 5m de altura e 7m de comprimento.
Altura: 5m | Peso: 15-20 toneladas
Andrewsarchus
Predador gigante da Ásia, com crânio de 83cm, considerado o maior mamífero carnívoro terrestre.
Crânio: 83cm | Peso: ~1 tonelada
Uintatherium
Herbívoro com protuberâncias cranianas e grandes caninos, pesando até 2 toneladas.
Comprimento: 4m | Peso: 2 toneladas
Brontotheres
Parentes dos cavalos e rinocerontes, com estruturas ósseas em forma de chifre no focinho.
Altura: 2.5m | Peso: 3-5 toneladas
Esses mamíferos demonstram a rápida diversificação e gigantismo que ocorreram em alguns grupos durante o Paleógeno, moldando paisagens dominadas por megafauna até então inédita.
O Mioceno e Plioceno
Há 23–5,3 & 5,3-2,6 milhões de anos
O Paleogeno se encerra, abre o novo período Neogeno, dividido em Mioceno e Plioceno. Aqui aprofunda-se a transição climática e geográfica iniciada nos períodos anteriores. Os continentes continuam a se mover rumo às suas posições atuais, e um evento marcante é a formação do Istmo do Panamá, conectando a América do Norte à América do Sul. Essa ponte terrestre altera as correntes oceânicas, como a intensificação da Corrente do Golfo, o que tem impactos significativos no clima global. O ambiente torna-se mais seco, favorecendo a expansão de savanas e desertos em diversas regiões. A vida terrestre floresce: os mamíferos se diversificam ainda mais, com o surgimento de grupos modernos como felinos, canídeos e primatas. É também no Mioceno que aparecem os primeiros hominídeos na África, ancestrais diretos do gênero humano.
A conexão entre as Américas resultou no Grande Intercâmbio Faunístico das Américas, um evento de enorme impacto ecológico e evolutivo. Diversas espécies do Hemisfério Norte migraram para o Sul, e vice-versa, quando o Istmo do Panamá foi formado, há cerca de 3 milhões de anos. No entanto, os animais sul-americanos enfrentaram maiores dificuldades de adaptação ao clima mais frio e às estações marcadas do Norte, enquanto muitas espécies norte-americanas prosperaram no Sul, onde as extensas florestas tropicais proporcionavam um ambiente mais estável e favorável. Além disso, os animais do norte estavam mais acostumados a migrações e competições por nichos, devido a conexões anteriores com a Ásia pelo Estreito de Bering. Já os grupos do sul haviam evoluído de forma isolada por milhões de anos, sem enfrentar grandes intercâmbios faunísticos, o que os tornava menos preparados para competir com invasores estrangeiros.
Como resultado, o fluxo de espécies do norte para o sul foi mais bem-sucedido. Exemplos incluem o Smilodon (tigre-dente-de-sabre), que migrou do norte para a América do Sul, junto com cavalos, veados, ursos e felinos modernos. Do sul para o norte, poucas espécies conseguiram se estabelecer, entre elas a preguiça-gigante (Megalonyx) e o tamanduá. Esse intercâmbio transformou drasticamente a composição faunística do continente sul-americano, com extinções de muitos grupos nativos e a consolidação de novos predadores e herbívoros originários do norte.
O Pleistoceno inicial trouxe mudanças climáticas radicais na África Oriental, com savanas se expandindo e florestas diminuindo. Este ambiente em transformação pressionou nossos ancestrais a desenvolver novas estratégias de sobrevivência.
Mudanças Chave:
Expansão das savanas
Maior sazonalidade climática
Disponibilidade de novos recursos alimentares
Homo habilis: O Pioneiro das ferramentas
Reconstrução de Homo habilis
O primeiro representante do nosso gênero a fabricar armas, Homo habilis ("homem habilidoso"), surgiu por volta de 2.4 milhões de anos atrás. Características marcantes:
Cérebro 50% maior que australopithecus
Fabricante sistemático de ferramentas de pedra (Olduvaiense)
Dieta mais variada incluindo carne
Estrutura social mais complexa
Revolução Tecnológica
As primeiras ferramentas líticas do Olduvaiense representam um salto cognitivo sem precedentes.
2.6 MaPrimeiras ferramentas
1.8 MaFerramentas mais sofisticadas
1.5 MaMachados de mão acheulenses
O Pleistoceno
Há 2,6 milhões de anos até 11.700 anos atrás
O Pleistoceno é o período mais recente da Era Cenozoica e é caracterizado por várias eras glaciais que moldaram a geografia da Terra. Durante essas eras glaciais, grandes partes do planeta foram cobertas por gelo, afetando a fauna e flora. Os mamíferos gigantes, como mamutes e tigres-dentes-de-sabre, dominaram as paisagens frias. O Pleistoceno também é notável pelo surgimento dos primeiros humanos modernos (Homo sapiens) na África, que eventualmente migraram para outras partes do mundo. As mudanças climáticas e a migração humana tiveram um impacto significativo na fauna, levando à extinção de muitos grandes mamíferos no final do Pleistoceno.
Árvore dos Hominídeos | Crédito da imagem: S. V. Medaris / UW-Madison. Fonte: Sci-News
A Quase Extinção do Ser Humano
Um dos momentos mais críticos da jornada humana ocorreu há aproximadamente 74 mil anos, quando o supervulcão Toba, na atual Sumatra (Indonésia), desencadeou a maior erupção dos últimos 2 milhões de anos. Este evento cataclísmico, classificado como VEI 8 (o nível máximo na escala de explosividade vulcânica), ejetou cerca de 2.800 km³ de material piroclástico - quantidade suficiente para cobrir todo o Brasil com uma camada de 33 cm de cinzas. As consequências foram devastadoras:
Inverno vulcânico global: As partículas na atmosfera reduziram a luz solar em até 90%, causando um resfriamento abrupto de 3-5°C que durou quase uma década
Colapso ecológico: A acidificação das chuvas e a destruição da vegetação levaram a extinções em massa de espécies vegetais e animais
Quase-extinção humana: Evidências genéticas sugerem que a população do gênero Homo pode ter sido reduzida para apenas 3.000-20.000 indivíduos reprodutores, criando um gargalo populacional cujos marcadores genéticos ainda são detectáveis em nossa espécie
Este evento, conhecido como Teoria da Catástrofe de Toba, permanece como um dos exemplos mais dramáticos da vulnerabilidade humana diante de forças geológicas globais. Curiosamente, pode ter acelerado o desenvolvimento de comportamentos sociais complexos como estratégia de sobrevivência.
Ilustração de Vulcanismo | Fonte: https://pt.geologyscience.com/riscos-naturais/erup%C3%A7%C3%A3o-vulc%C3%A2nica/a-hist%C3%B3ria-das-erup%C3%A7%C3%B5es-vulc%C3%A2nicas/
A partir de cerca de 11.700 anos atrás, entramos no período da história recente do planeta, deixando para trás o campo da paleontologia e adentrando disciplinas como a história, a antropologia e a arqueologia. Esta linha do tempo tem como objetivo apresentar um resumo essencial — do Big Bang até os dias atuais — com foco na origem e evolução do planeta, suas eras geológicas e o surgimento de nossos ancestrais. Em breve, novos temas mais específicos sobre diferentes eras universais e geológicas serão abordados com maior profundidade.
O Holoceno
Há 11.700 anos até o presente
O Holoceno é o período atual da história da Terra, caracterizado pelo desenvolvimento da civilização humana e pela domesticação de plantas e animais. Durante este período, os humanos se espalharam por todo o planeta, desenvolvendo culturas complexas e tecnologias avançadas. O Holoceno também é marcado por mudanças climáticas significativas, incluindo o aquecimento global causado pela atividade humana. A era atual é uma época de grandes desafios ambientais, como a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas, que exigem ação global para garantir um futuro sustentável.
O Holoceno é um período de grande relevância para a história humana, pois marca o surgimento das primeiras civilizações e o desenvolvimento da agricultura. No entanto, também é caracterizado por intensos desafios ambientais, como as mudanças climáticas e a perda acelerada da biodiversidade. A redução drástica no número de espécies animais e vegetais tem levado cientistas a considerar que estamos vivendo uma possível sexta extinção em massa.
Um exemplo emblemático é o Dodô (Raphus cucullatus), uma ave não voadora que habitava as Ilhas Maurício, no Oceano Índico. Extremamente dócil e sem defesas naturais contra predadores humanos, foi rapidamente extinta no século XVII. O Dodô tornou-se um símbolo clássico da extinção causada pela ação humana, representando a vulnerabilidade da vida selvagem diante da exploração descontrolada.
O Antropoceno é um termo proposto para descrever a era atual, caracterizada pela influência significativa dos seres humanos no meio ambiente e nos processos geológicos. Embora não haja consenso científico sobre o início exato do Antropoceno, muitos concordam que ele começou com a Revolução Industrial no século XVIII, quando as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo - A explosão da primeira bomba atômica (1945). O Antropoceno é marcado por mudanças climáticas aceleradas, poluição em larga escala e extinção de espécies em ritmo alarmante. A era atual representa um desafio sem precedentes para a humanidade, exigindo ação urgente para mitigar os impactos ambientais e garantir um futuro sustentável.
O Antropoceno representa uma nova era geológica marcada pelo impacto profundo e sem precedentes das atividades humanas sobre o planeta. Nunca, em nenhuma era geológica anterior, houve uma produção tão massiva de materiais artificiais: são mais de 430 milhões de toneladas de plástico produzidas anualmente. Soma-se a isso o alumínio, um elemento que praticamente não ocorre de forma isolada na natureza e que hoje já acumula mais de 500 milhões de toneladas distribuídas pela superfície terrestre. O concreto, por sua vez, desde 1950, já soma mais de 25 bilhões de toneladas (Bruno Paixão, 2023).
Embora muitos discutam se o aquecimento global atual merece tanta atenção — argumentando que a Terra já passou por outros períodos naturalmente mais quentes — essa visão ignora o ponto central da questão: o impacto sobre a humanidade. O planeta sobreviveu a extremos — foi moldado sob temperaturas solares, colidiu com o planeta Theia, enfrentou eras glaciais e cinco grandes extinções em massa. No entanto, a questão não é a resiliência da Terra, mas sim a nossa própria vulnerabilidade. Animais foram extintos por mudanças climáticas. E nós, a espécie com maior capacidade cognitiva já surgida, não deveríamos usar essa inteligência para equilibrar o ambiente e garantir nossa sobrevivência e evolução?
Portanto, não faz sentido minimizar a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas. Somos, como espécie, extremamente frágeis diante das variações do clima. Já estivemos à beira da extinção uma vez — por causas naturais fora do nosso controle. Agora, diante de uma crise climática provocada por nossas próprias ações, temos a responsabilidade e a capacidade de agir conscientemente para mitigar seus impactos e garantir nossa sobrevivência a longo prazo.
Uma Jornada Através do Tempo: O Que Nos Espera?
Plástico nos oceanos | Fonte: https://www.funverde.org.br/blog/dia-mundial-dos-oceanos-planeta-corre-o-risco-de-se-afogar-em-plastico/
Esta viagem pelos 4,5 bilhões de anos da Terra nos revela um planeta em constante transformação. Desde os primeiros instantes do Universo até o surgimento da humanidade, cada era foi marcada por:
Cataclismos cósmicos que moldaram nosso sistema solar
Extinções em massa que redesenharam a vida
Adaptações extraordinárias da biosfera
Hoje, pela primeira vez na história, uma espécie - Homo sapiens - tornou-se força geológica capaz de alterar o clima global em escala comparável aos grandes eventos do passado. O Antropoceno não é apenas um conceito, mas um alerta: estamos escrevendo o próximo capítulo desta história.
Que este conhecimento nos inspire a agir com sabedoria, lembrando sempre que somos tanto herdeiros quanto guardiões desta incrível jornada cósmica (Autor desconhecido).